Resgatar um animal abandonado ou que sofre maus tratos, é um ato solidário e respeitável, entretanto são necessários conhecimentos específicos para preservar a vida e a saúde de todos os envolvidos.
Através deste manual, o Pet Hotel Fuçus Lindus, capacita qualquer indivíduo a realizar resgates simples e explica como proceder em casos complexos.
É preciso ressaltar que animais procedentes de maus tratos e abandono podem ser agressivos e possuir doenças ou lesões sérias em que há necessidade da presença de um médico veterinário durante o resgate. Eles ainda podem estar em locais perigosos ou adversos como rios, barrancos ou em propriedades privadas. Nestes casos o indicado é a ajuda do Corpo de Bombeiros, Polícia Militar Ambiental ou outra autoridade competente. O mesmo deve ser aplicado aos animais silvestres.
O resgate não se limita a remoção do animal, mas também a acomodação, alimentação e todos os cuidados até que ele seja definitivamente adotado. Portanto, quem retira um animal da rua, se torna responsável por ele. Do mesmo modo que existem pessoas que causam sofrimento à cães, por exemplo, existem aqueles bons sujeitos que os resgatam, abrigam e proporcionam a vida que eles realmente merecem.
Não deixe de ajudar um animal em risco, ele será eternamente grato por este ato.
O Resgate
1º Avalie o local
Ao encontrar um animal precisando de ajuda sempre avalie a situação e, se julgar necessário, isole o local e afaste os curiosos. Ruas movimentadas e estradas podem resultar no atropelamento para ambos ou em ataques do animal aos transeuntes.
Caso o animal se encontre em um lugar que ofereça risco como barrancos, rios ou em árvores, e você não se sinta seguro em resgata-lo, chame o Corpo de Bombeiros (193) ou a Polícia Militar (190), eles possuem treinamento para atuar em situações adversas.
Mas lembre‐se, você fica responsável por abrigar e cuidar do animal resgatado.
Acionar as autoridades também é a melhor solução para o resgate de animais abandonados ou vítimas de maus tratos dentro de residências ou áreas particulares, caso o proprietário do local esteja ausente ou não colabore. De acordo com o art. 5º, inciso XI da Constituição Federal de 1988, “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, por determinação judicial”.
Ou seja, entrar na casa ou mesmo no quintal de outra pessoa é crime. Se existir flagrante, no caso o animal vítima do abandono, é possível fundamentar-se na lei e agir. Está previsto no art. 23 do Código Penal que “não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito;”.
Entrar em uma propriedade sem o consentimento do responsável é a última alternativa e deve ser realizada com o auxílio de um chaveiro, muitas testemunhas e documentação, e apenas quando não há tempo para a ação de autoridades competentes.
2º Avalie o comportamento do animal
Veja se a situação em que o animal se encontra não oferece risco para ele ou para você.
Seja sensato. Animais mal tratados ou abandonados podem torna‐se agressivos e atacar.
Ofereça água e alimentos para atraí‐lo e passar confiança.
Quando sentir segurança que o animal não irá atacar aproxime‐se devagar e lhe de o dorso da mão para cheirar.
Trate‐o sempre com muito carinho, animais são sensíveis e percebem quando alguém quer ajuda‐los.
3º Animais machucados
Animais atropelados ou vítimas de maus tratos muitas vezes precisam do auxílio de veterinários no local em que se encontram. Assim como é melhor não mover uma pessoa acidentada para evitar maiores transtornos, o mesmo se aplica aos animais. Neste caso encontre um veterinário para auxiliar na remoção.
Na ausência de fraturas ou problemas maiores avalie a necessidade de usar uma focinheira ou fazer uma mordaça com tecido para evitar mordidas.
Não se esqueça, animais assustados ou com dor podem atacar.
Limpe os ferimentos com água e NUNCA faça torniquete.
Após o primeiro atendimento leve‐o imediatamente ao veterinário. Caso não tenha um automóvel para fazer o transporte, existem outras opções de locomoção, como táxis ou viaturas de polícia ou bombeiros.
Para casos mais graves existem os serviços de emergência especializados em transporte de animais (canis municipais).
Tratamento
4º Visita ao veterinário
Mesmo se o animal aparentar um estado saudável, leve‐o ao veterinário antes de ir para casa, logo após o resgate. Muitas doenças não são perceptíveis aos leigos e podem oferecer riscos a outros animais, crianças e adultos.
Só coloque o animal em convívio normal dentro da sua casa após a permissão do veterinário.
Vermifugar, vacinar e castrar o animal são três passos importantíssimos.
Mesmo que ele pareça saudável, dê vermífugo e questione o veterinário para saber quais vacinas são necessárias.
Por fim, faça a esterilização tanto dos machos quanto das fêmeas.
Esta é a maneira mais eficaz de fazer o controle populacional de animais e está diretamente ligado à redução de animais nas ruas.
Lembre‐se que quem arcará com todos os gastos, incluindo o veterinário, é você.
Alguns procedimentos podem ser bastante caros, mas existem muitos profissionais que realizam cirurgias (principalmente de castração), consultas e vacinação com preços abaixo do mercado para animais resgatados.
Em seis anos, uma cadela não castrada pode gerar 64 mil descendentes e uma gata, 420 mil em apenas sete anos.
A falta de controle populacional de animais e o desconhecimento do conceito de guarda responsável são os maiores responsáveis pelo abandono. CASTRE SEU ANIMAL!
Lar temporário
Até encontrar um novo lar definitivo (adoção), você é responsável pelo animal resgatado.
Ou seja, tem o dever de arcar com os gastos de alimentação, saúde, oferecer abrigo e muito carinho.
Atente-se na adaptação ao lar temporário, que é mais fácil para animais adultos enquanto filhotes possivelmente chorarão nos primeiros dias. Por outro lado, quanto mais novos, mais fácil será a relação com outros bichos. É importante também se dedicar ao processo de educação do filhote para evitar danos na casa.
Caso existam animais na casa, algumas precauções são necessárias.
Aprincípio não faça carinho no hóspede na frente dos animais antigos e forneça uma cama, cobertor e potes para ração e água exclusivos para ele.
Para cães, o ideal é que o primeiro contato seja fora da casa, em uma praça ou parque. Eles devem estar presos por uma guia e visíveis um ao outro. O passo seguinte é permitir o contato físico em que os cães se cheiram. Latidos e rosnados são normais nesse momento, mas permaneça atento e repreenda qualquer atitude mais agressiva e premie‐os com petiscos após interações adequadas.
Algumas vezes quem faz o resgate não possui condições de manter o animal na própria casa. Seja pelo porte ou por ter outro bicho mais agressivo. Recorrer à amigos ou parentes é uma opção, explique a situação e diga que é provisório, estipule um prazo para encontrar uma família definitiva ao animalzinho. Hotéis para animais são opções bastante usadas por protetores independente, ONGs e instituições que não possuem mais espaço, mas estes possuem custos e normalmente são caros.
Tente arrecadar dinheiro com conhecidos e mostre o quanto estarão ajudando o animal.
Não leve o animal para ONGs ou instituições, pois estes não possuem mais espaço para abrigar tantos bichos, que acabam ficando hospedados na casa dos voluntários.
E, em hipótese alguma, entregue ao Canil Municipal ou ao Centro de Controle de Zoonoses de sua cidade, pois estes locais são vetores de doenças e normalmente estão superlotados, o que os torna verdadeiros depósitos (presídios) de animais.
Adoção
Não se tornar tutor definitivo (adotante) de um animalzinho não é razão para não resgata-lo.
Após os cuidados iniciais e a hospedagem provisória, você tem a opção de colocá‐lo para adoção, e buscar de uma nova família para ele.
Nada de entregá‐lo às autoridades e nem deixá‐lo com instituições, eles carecem de verbas e local para os animais.
Porém, podem ser parceiros nessa busca. Existem muitas opções como feiras de adoção, a divulgação local e a internet.
Diga xis! Fotografe o animal no momento do resgate e após os cuidados, caso queira mostrar o processo de recuperação. Crie um cartaz com as imagens e distribua em Pet Shops, clínicas veterinárias e locais de grande movimento como mercados, padarias e comércio em geral.
Lembre‐se de colocar pelo menos uma foto, nome, raça, sexo, idade, porte, cor, temperamento e eventuais limitações ou doenças do animal.
Esta forma de divulgação local é bastante eficaz para animais perdidos.
Usar a internet para divulgar o animal é outra ótima opção, pois atinge um grande público.
Através de redes sociais, blogs ou hospedadores de vídeos você pode divulgar pequenos filmes, o que atrairá o interesse de possíveis tutores. Não se esqueça de informar seu e‐mail e telefone para contato, além da cidade e estado em que reside. Ainda existem muitos sites dedicados a adoção de animais e feiras com esse propósito.
A internet é um ótima meio para doação de gatos, enquanto cães fazem mais sucesso em feiras de adoção.
Esses eventos tem periodicidade variada, mas ocorrem com frequência. Busque informações em Pet Shops da região ou em sites de doação de animais.
Lembre‐se que as feiras só aceitam animais vacinados e castrados.
Encontrar um adotante pode não ser uma tarefa fácil, o novo responsável pelo animal deve se enquadrar em algumas regras para que a parceria entre os dois seja duradoura, prazerosa e que não culmine em outro abandono.
Sempre anote todos os dados da pessoa e solicite um comprovante de residência.
Converse com ele, pergunte se todos da casa estão de acordo com a adoção, se o local é seguro possui portão alto para cães ou telas para gatos? Se sabe quanto custa manter um animal?
Lembre‐se também de questioná‐lo sobre outros bichos na casa, quanto tempo o bicho ficará sozinho e qual será o procedimento em viagens.
Todas essas perguntas ajudam a traçar o perfil da pessoa em relação aos animais e saber se aquela parceria dará bons resultados.
É preferível que o animal permaneça mais tempo no lar provisório do que seja novamente abandonado, sofrendo e passando por dificuldades mais uma vez.
Encontrou o tutor ideal?
Entregue um termo de responsabilidade para o adotante assinar (Termo disponibilizado na página Animais para Adoção – Contrato).
Esta é a garantia legal de que o animal será bem tratado. Lembre‐se de mostrar‐se disposto a ajudar o novo tutor com qualquer problema.
Caso a pessoa não se adapte ao animal ou ao ambiente e ele seja devolvido, receba o animal e trabalhe o ponto que gerou problema, por exemplo fazer as necessidades fora do local determinado ou latir demais.
O cuidado no processo de triagem ajuda para que isso não ocorra, se o adotante não parecer seguro, diga a ele para pensar mais um pouco e que um animal é muita responsabilidade.
Resgate de Animais Silvestres
Muitos animais silvestres vão para áreas urbanas em busca de alimentos e não conseguem voltar ao habitat natural, ficando presos dentro de residências, em árvores ou automóveis.
Neste caso o procedimento deve ser sempre acompanhado por entidades e profissionais capacitados como veterinários ou técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) ou ainda a Polícia Militar Ambiental. O papel do cidadão é isolar a área, informar as autoridades imediatamente e acompanhar o salvamento.
Após tratados os animais devem ser devolvidos à natureza. Caso veja animais silvestres sendo vendidos ou sob a guarda de pessoas não autorizadas, denuncie através do telefone 0800‐61‐8080, a Linha Verde do IBAMA. A ligação é gratuita e pode ser realizada em todo o Brasil.
Em casos extremos, em que não há tempo para a Polícia Militar Ambiental ou o IBAMA chegarem ao local, a pessoa deve usar luvas para proteção durante o salvamento.
Nunca acaricie animais silvestres, isso causa estresse e o contato humano deve ser o menor possível, pois pode reduzir as chances de readaptação à natureza. Não ofereça água ou alimentos, deixe isso para pessoas capacitadas.
Apenas retire o animal e leve‐o a um local seguro.
Se a suspeita é de um animal órfão, certifique‐se. Muitos filhotes de pássaros ao aprenderem a voar ficam no solo longe dos pais, assim como mamíferos que são deixados sozinhos momentaneamente quando os adultos buscam comida. Se, após algum tempo o animal ainda permanecer sozinho chame um especialista para avaliar melhor e fazer o resgate. Se for necessário transportar o animal, use uma caixa de segurança e leve-o no carro sem música ou conversas e com o aquecimento ligado. Lembre‐se, você precisa da autorização da Policia Militar Ambiental e do IBAMA para realizar o procedimento.
Resgate de animais de grande porte
Embora mais raros, animais de grande porte podem precisar de resgate. Mais comuns em cidades pequenas, o salvamento de equinos e bovinos demanda mais pessoas e deve ser realizado por profissionais capacitados.
Por conta do tamanho e da força um leigo pode se machucar seriamente no procedimento. Nestes casos informe a Polícia Militar ou a Guarda Municipal de sua cidade.
Quando a situação envolve animais marinhos o procedimento é semelhante: avise as autoridades! Estes resgates costumam envolver um grande número de voluntários e pessoas capacitadas, sempre com a orientação de profissionais.
Quando esses bichos chegam à praia já estão muito debilitados.
Ao interessados, o Sea Shepherd – Guardiões do Mar oferece cursos pagos de capacitação. (http://www.seashop.org.br/produto.php?cod_produto=1741558)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tão importante quanto retirar um animal das ruas é propagar e colocar em prática o conceito de guarda consciente. Aqueles animais encontram‐se ali porque alguém os abandonou ou não teve o cuidado de castrar seus progenitores. Sempre que um amigo ou parente informá‐lo do desejo de adquirir novo animal sugira a adoção como opção à compra e converse para ver se a pessoa realmente está disposta a gastar tempo e dinheiro com o novo amigo. A redução da quantidade de animais sofrendo nas ruas só ocorrerá quando políticas públicas forem efetivas e a educação e cultura da população em relação aos animais mudar.
Enquanto isso o papel do voluntário que faz resgates é essencial.
Ter um animal em casa é uma grande responsabilidade e inclui dedicação, gastos, atenção e muito carinho. Nunca se esqueça, quando abandonados os animais sofrem.
Existem outras formas para ajudar animais resgatados, como fazer doações para ONGs ou protetores independentes, para cobrir custos com veterinário, alimentação e hospedagem. O que não falta são pessoas que abrigam provisoriamente animais resgatados, abrigos e ONGs precisando de recursos. Doe seu trabalho, visitando abrigos para simplesmente para fazer carinho ou passear com os animais.
E lembre‐se, maus tratos aos animais é crime previsto na Lei Federal 9.605/98. Denunciar também é fazer a sua parte!
Em caso de emergência ou flagrante ligue para a Polícia Militar (190) ou recorra a Delegacia de Polícia Civil.
O melhor lugar para um cão ou gato é com uma família. Que tal ser a sua?!
Telefones Úteis
Polícia Militar (190)
Corpo de Bombeiros (193)
Disque Denúncia (181)
IBAMA (Linha Verde) 0800‐61‐8080
Policia Florestal (Disque Meio Ambiente) 0800‐11‐3560
Polícia Ambiental RS (51) 3339-4568 http://www.ambientalbmrs.org
Referências
http://www.bichonoparque.com.br/
http://www.fabianojacob.com.br/
http://www.institutoninarosa.org.br/
http://mbs‐euamocaes.blogspot.com/
http://www.youtube.com/watch?v=awFSbgMmMZA
http://basicanimalrescuetraining.org/
http://www.adoteumbichoderua.blogspot.com
http://portalarcadenoe.org.br/